(*) Não é fácil ser diferente, mesmo sabendo da diversidade e das
qualidades que cada pessoa naturalmente tem. A novidade sempre nos assusta, ou
nos encanta, provocando reações que podem ser interpretadas de diversas formas.
Mas é oportunidade também de reflexão e de descoberta do bem que isto pode
ocasionar aos demais.
A
bíblia fala da transfiguração, acontecida com Jesus Cristo, no Monte Tabor. É
uma cena que pode ser entendida como situação ou realidade nova, transformada,
por fazer um caminho de conquista de libertação e de busca do novo. Assim deve
acontecer na história de vida das pessoas e da sociedade no trajeto de sua
construção.
A
verdadeira transfiguração passa por uma via de justiça, sobre a qual deve
pairar a virtude da esperança. É um caminho de compromissos assumidos com
responsabilidade, sem fanatismo e nem superficialidade. Em vista disto, as
pessoas realizam as coisas de "pés no chão", comprometidas com aquilo
que proporciona vida nova.
As
novidades podem não ser bem vistas, principalmente quando ferem tradições
firmadas numa longa história. Podemos até entender que certas leis dificultam
atos de criatividade e iniciativas novas. Elas podem impedir um caminho de
libertação, fundamental para a pessoa se transfigurar, ser outra e conquistar a
felicidade.
Ser
diferente é transformar práticas de escravidão em condições de liberdade. Assim
aconteceu com o povo hebreu em sua sofrida saída do Egito, fugindo da opressão
imposta pelas autoridades daquele Estado. Faz parte da essência de cada pessoa
a busca de liberdade, mas isto supõe uma trajetória de luta e de sofrimento.
Ser
transfigurado é uma realidade que vem por consequência de ter passado pelos enfrentamentos
das situações de cruz, às vezes de muito sacrifício, chegando à ressurreição, à
vida em Deus. Parece estranho esta realidade, mas a chegada final dá razão à
cruz. Do contrário, ficamos "brigando" por poder, por glória e
satisfações políticas inconsistentes. Na transfiguração de Cristo houve o
encontro do antigo com o novo, revelando a passagem bíblica do Antigo
Testamento para a chegada do Novo Testamento.
*Dom
Paulo Mendes Peixoto - Arcebispo de Uberaba
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