domingo, 4 de agosto de 2013

Poema do Caminhante


Autor: Albino Neves - Extraído do livro “O Andarilho -  A viagem rumo ao infinito” – Editora Mandala - No catálogo geral leva o número – 969/9B. ISBN 85-319-0420-X.


Caminho

Na mansidão da noite

em busca da imensidão do dia.

Na noite o silêncio, onde fal a voz da consciência,

no dia, a voz do acaso.

À noite caminho,

no dia eu ando,

em ambos, eu busco

o calor do corpo,

o frescor da alma,

que juntos completam a fonte da vida.

Nela bebo,

sacio a sede de ser,

de saber,

de ter, de viver.

E vivo!

No campo das flores,

no rodamoinho das ondas,

mas flutuo no ar,

como se asas tivesse

e pudesse voar.

E vôo!

Um vôo sereno

que os tufões não abalam,

calam,

emudecem,

mas persisto, e me deixo levar,

e, no caminho, aprendo,

sorvo o momento,

na certeza de que não é o primeiro

nem o último, mas o único.

Como único, reverencio-o.

Observo o seu passar,

com ele vivo.

Muitas vezes sobrevivo!

Mas vivo.

Deixando no ar o perfume da vida,

no rastro do tempo, na chuva ou no sol.

Caminho com o tempo

e o tempo se vai ou fica.

Não sei se ando ou vôo,

mas sei que persisto na busca de ser

um ser.

Se sou eu não sei.

Só sei que guardo a lembrança da vida e vivo.

Que amo com a plenitude da alma e aí me completo.

Divido e sou dividido.

Busco e me acho,

no canto ou no centro, no espaço e no tempo.

Nos trilhos e atalhos, conheço o caminho

 e nele observo a vida passar.

E com ela caminho,

sem medo de errar,

pois, na surpresa do ato,

está o crescer.

E crescendo estou

na busca de ser um ser.

Se sou, eu não sei.

Só sei que caminho por terras distantes,

às vezes eu ando,

em outras, eu vôo.

De uma coisa estou certo:

Eu sempre existi.

Se existo, estou vivo!

Mesmo que o corpo discanse,

na terra fria ou quente,

persisto na caminhada, na luz que irradio,

ela me guia

na rota da vida

que está além de ser um ser.

Quem sou?

Eu não sei!

Mas sei que busco a forma de ser

a integração com o Universo, e nele me diluo.

Quem sabe um dia eu me encontre na verdade comigo,

e daí me descubra.

Talvez.